A Troca

  ELA chegou a lanchonete. “É aqui.”
  Empurrando a porta, Joana observa o local. “Será que ele já chegou?”, indagando-se nervosamente. Com um passo atrás do outro, ela se aproxima a uma mesa de dois lugares. Olhos masculinos a seguem, refletindo se o que viram debaixo do sobretudo foi uma gostosa. Joana estava acostumada com os olhares. Sim, era uma gostosa. Quanto a Joana, ela não deu importância. Anos de prática, ela sempre repetiu.
  O garçom se aproxima, a senhora deseja alguma coisa? Água, por favor, ela responde. Água seria muito bem-vinda. A garganta dolorida e a boa seca estava completando as mãos suadas e o coração galopante. Hoje era um dia importante. Marcara com o homem misteriosos havia algumas semanas, e ficara na ansiedade desde então. Márcia lhe disse para não ir. Era fácil para ela falar, ela que não precisava daquilo.
  Olhou para o relógio: quinze para as nove. Havia chegado cedo. Colocou uma bolsa no outro banco, tomou um gole, relutante, e respirou fundo. Um jogo de futebol estava passando. Um time de blusa de listras vermelhas e pretas disputava com uma de cor azul. Começou a assistir, finalmente se distraindo.
  Um homem entra no campo de visão. O diafragma se move com mais força, fazendo ela respirar rapidamente. Era ele. Um sujeito afrodescendente se senta, olhando ao redor. Tinha uma barba escura encaracolada, usava óculos escuros e um chapéu de mafioso.
  “Como vai?”, ele diz. Sua voz apresentava um tom de urgência.
  “A cada dia respiro menos”, respondeu com a senha.
  “O dinheiro, onde está?”
  “Na boa do seu lado.” Ele abre, checa o dinheiro. Estava tudo ali.
  Um policial passa perto a mesa. Ambos prendem a respiração. “Seu guarda.” o homem diz. O guarda acena com a cabeça e continua andando. Aliviada, Joana respira fundo.
  “Acho que você deseja esse aqui. Tem certeza que não importa qual é o produto?”
  “O importante é que dê para cheirar.”
  O homem coloca a mão na bolsa e retira uma pacote embrulhado em papel pardo.
  “Passe para cá.” Diz ela, ávida, quase gritando.
  O homem sai da lanchonete se perguntando como foi parar naquela vida. Lá dentro, uma Joana desesperada rasga o embrulho, abre o livro e sente o cheiro do paraíso. Ebooks não tinham a capacidade de suprir seu vício. Márcia nunca entenderia as necessidades de um viciado em cheiro de livros.


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