Os Limites Humanos

  Pedro era um garoo ativo. Tinha uma rotina agitada, jogava bola todos os dias e andava de bicicleta com o pai aos sábados. O tempo de estudo não era grande, mas era o suficiente para terminar os afazeres do colégio, e ele ajudava a mãe com a limpeza de casa de vez em quando. Então, Pedro descobriu a internet, e todos os benefícios que com ela vinham. Ele podia falar com os amigos, não precisando mais visita-los. Perdeu aquele entusiasmo com futebol, pois o pessoal agora só conversavam sobre as missões do RPG virtual. Começou a dormir e acordar tarde. Já não andava mais de bicicleta. Preferia ver videos engraçados a ajudar a mãe. O tempo de estudo, agora reduzido a menos da metade, se refletia nas notas do colégio. Pedro, subitamente, tornou-se um preguiçoso.
  Casos assim tem se repetido cada vez mais frequentemente, e faz parecer que a vilã é a internet. Esta ferramenta tem servido a humanidade como uma faca de dois gumes. Se por um lado ela facilita a comunicação e a troca de informações, por outro ela tem gerado comportamentos cada vez mais dependentes e ilusoriamente confortáveis, levando as pessoas mostrarem-se, mesmo que levemente, mais preguiçosas, improdutivas e ausentes. Por que isso acontece?
  O ser humano foi “projetado” para executar o mínimo esforço necessário, dado ao fato de que, se você gasta energia demais, você está correndo perigo. Vamos ilustrar da seguinte forma: Se eu carrego pedra o dia inteiro, gastarei toda energia necessária para caçar, e, se eu não caçar, eu morro de fome. Também pode ocorrer de faltar energia para lutar ou fugir de uma ameça. O ser humano, basicamente, evoluiu para ter uma vida de planejamento a curto-médio prazo. Logo desenvolveu-se o sistema que chamo tanques de energia.
  É importante diferenciar aqui o uso da energia. Ela pode ser anaeróbico, aeróbico e mental. Os dois primeiros são físicos, dependendo dos músculos e do fluxo de oxigênio, respectivamente. Esse dois tem limites bem definidos: Se você é incapaz de manter um fluxo de oxigênio razoável, não havéra diferença na quantidade de esforço para manter a atividade; e, se você chegou no limite do músculo, não há nada que se possa fazer que não seja algo radical. Agora, a energia no esforço mental é o que define se seus pensamentos serão claros e precisos.
  Tanques de energia são dividos em duas partes. O tanque de energia 1 é destinado ao esforço do qual você está acostumado a usar num determinado período de tempo. É bem semelhante ao sistema de séries para o músculo: Se você está acostumado a manter blocos de concentração (como escrever um relatório, planejar um produto, participar de um reunião), divididos por alguns intervalos para descanso, num período de 8 horas, fazer horas extras podem criar uma certa tensão em você. Esse tanque é baseado na quantidade de esforço necessária. Se você diminui essa quantidade, como o que ocorre quando a internet se torna mais presente no cotidiano do que aconselhado, essa tensão é criada mais rapidamente.
  O que nos leva ao segundo tanque. Este tanque reserva é bem menos eficiente que o primeiro, e o objetivo dele é suprir as necessidades básicas e recarregar tanque principal. Por isso, qualquer esforço extra não é bem vindo, e nos torna-mos ainda mais vulnerável ao erro e a falta de atenção.
  Para aquele cuja o objetivo é aumentar o tanque principal, uma estratégia eficiente é tratar como uma musculação: Começar com o que está confortável, sempre ir um pouco mais que o limite, ter perseverança e tirar confiança do resultado que seu esforço vai ter.